Ninguém nasce preparada para ser mãe. A vontade de cuidar, o amor, podem até nascer junto com o bebê, mas tem decisões que a gente precisa tomar racionalmente…e isso é complicado pra qualquer um…mais complicado ainda para quem está com os hormônios malucos depois do parto (e isso dura ANOS).
Com o meu primeiro filho eu queria fazer tudo absolutamente perfeito: a introdução alimentar foi de acordo com o recomendado pelas nutricionistas na época, ele não teve nenhum acesso a telas até um ano de idade…tentei fazer uma rotina de sono da melhor forma (ela só aconteceu depois de 3 meses de idade dele, admito). Mas a coisa só foi ficando mais leve pra mim quando eu aceitei que eu não sou a mãe que dá banho à luz de velas com música clássica antes de colocar pra dormir, que eu não vou comprar todas as brigas com relação à alimentação e que eu não banco uma rotina zero telas.
Ah, as telas…se a gente relaxar, acaba usando o Youtube como sedativo da criança e, por isso, muitas vezes é mais fácil proibir mesmo; porque tem muita coisa inadequada nessa rede e eu nem estou falando de classificação etária. Observa:
– Existem vídeos em que a criança fica absolutamente hipnotizada, não pula, não brinca, não interage com ninguém. Ela fica só olhando para tela e mais nada. E esse tipo de vídeo eu simplesmente bloqueio, sem dó.
– Existem conteúdos que, se a criança for copiar, vai ser problemático: se uma criança vê o homem aranha no desenho, ela provavelmente vai brincar que é o homem aranha…e, se ela vê uma criança mal educada no desenho/vídeo a chance de que ela imite é imensa.
– Existem conteúdos que se dizem educativos, parecem educativos, mas que são uma verdadeira ofensa à educação. Ficar repetindo as cores dos objetos, contando coisas aleatórias é completamente desnecessário para uma criança pequena (e ela vai imitar outros comportamentos do vídeo, mais cedo ou mais tarde)
– Eu não gosto de conteúdos onde adultos se vestem como crianças e interagem de maneira infantil com outros adultos ou crianças, não acho que seja uma boa que meus filhos cresçam achando normal adultos agirem dessa forma, pode ser perigoso. [tem uma exceção: o Castelo Rá Tim Bum!]
Eu sei que liberar telas da forma que eu faço dá um trabalho imenso, mas essa é a unica forma de ter essa “rede de apoio” de forma minimamente saudável. No Youtube Kids, eles tem acesso apenas aos videos e canais que eu libero; nada de classificação por idade, eu libero um por um; nós criamos os perfis infantis nos streamings e eu vou monitorando o que eles assistem, proibindo o que eu acho que tem que proibir e limitando o que for ficando excessivo. E eu assisto muita coisa junto com eles, e eles só veem na TV….celular e tablet é raríssimo e, quando eles acessam, estamos de olho…
Existe o mundo ideal e existe o mundo real e, se a gente ficar só sofrendo com o mundo ideal que a gente não consegue atingir, pode ser bem pior. Nossa tarefa como pais e mães é tornar o mundo real o melhor possível para os nossos filhos e pra gente também (por que não adianta oferecer o perfeito para os filhos às custas da nossa saúde mental ou financeira). E eu ainda estou aprendendo, ajustando a rota e construindo os trilhos enquanto o trem está em movimento…a vida é assim, o mundo está mudando rápido demais e as fórmulas do passado não funcionam, temos que criar as nossas.